sexta-feira, 27 de maio de 2016

Papel dos Pais

Os pais são tão importantes. Eles são os portadores da razão, da sabedoria e da força e sem eles seríamos metade daquilo que somos. Não dizemos que a presença de todos os pais é positiva, até porque testemunhamos na televisão (e fora de ela) casos que provam o contrário, mas precisamos que existam.

Com eles contactamos pela primeira vez e vivemos as fases que nos definem enquanto humanos.

Como falamos num outro texto, Lev Wygotsky, um aludido estudioso sobre a psicologia infantil, acredita que graças ao facto da criança ser um ser relacional, esta irá adquirir muitas caraterísticas e comportamentos através da relação interpessoal. Será de esperar, portanto, que as primeiras relações com os pais sejam determinantes na influência das nossas personalidades.

Não é habitual vermos um “miúdo” mimado a agir como um “miúdo” abandonado. Ambos tiveram relações interpessoais distintas.

Estudiosos apontam que após os anos 60, criou-se uma onda de liberalismo que se arrastou para os dias de hoje. Os pais em vez de executarem o papel de educador que lhe está pré-destinado, preferem ser os melhores amigos. E ao invés de estabelecerem regras para os seus filhos cumprirem, estes optam por um papel bem mais liberal. Aliás em alguns casos, as figuras paternas tentam compensar a rigidez a que foram submetidas enquanto crianças, com uma educação mais “mimada”.

Comportamento que considera negável, já que é esta liberdade educativa que forma jovens desordeiros, sem a noção dos limites. Na opinião dele, a mudança de paradigma deu-se de forma muito abrupta e se antes dos anos 60, os pais eram mais rígidos e os filhos sucumbiam à sua autoridade, agora existe excesso de atenção que culmina com um tratamento da criança digno de rei. Propõe uma nova mudança, onde os pais consigam encontrar o balanço ideal entre rigidez e amizade, para que nem a criança crie uma visão demasiadamente “dura” nem uma visão demasiadamente “cor-de-rosa” da vida, tornando-se mais equilibrada.

Certamente as nossas vivências com figuras paternas foram distintas umas das outras e vamos usar este espaço para vos elucidar acerca das nossas experiências.


João
Sobre este tema a minha experiência diz-me que a influência dos meus pais é bem grande no meu desenvolvimento.
Grande parte da minha infância foi vivida em casa. Nunca fui um rapaz que procurava muita experiência exterior, aliás sentia um bocado de repulsa em ter que conviver com um grupo grande de pessoas durante muito tempo e a solução passava por estar em casa a viver o meu mundo.
Sendo o primeiro de dois filhos, sem dúvida que tive uma maior proteção por parte dos meus pais em relação à minha irmã, o que a meu ver é totalmente compreensível. Aqui estão duas pessoas a serem pais pela primeira vez, sem terem bem a noção do que fazer.
Ás vezes sentia-me tão bem em casa, que não via o mundo lá fora como uma opção. Nunca a frase “se estás a ganhar, não mudas” encaixou tão bem. Um dia na escola corria menos bem, ia para casa e ficava tudo bem. Lembro-me muitas vezes de me sentir muito tranquilo na cozinha enquanto via a minha mãe cozinhar (atividade que ela preza muito e que ela demonstra através de pratos maravilhosos). Não precisava de ir longe para ter aquilo que precisava. Quando sair da minha zona de conforto era a ordem do dia, ia com o meu Pai. Tinha uma confiança inabalável nele e um respeito que apenas um grupo exclusivo de pessoas merece. Todo o lugar onde ele ia, eu ia, simples.
Claro que também tivemos os nossos confrontos. Esse geralmente acabavam com ele a tentar ensinar-me “boas maneiras”, enquanto eu corria desenfreadamente pela casa. Quando me apanhava era um problema, mas olhando agora para trás lembro-me desses momentos com um sorriso na cara. Exigência era um conceito que o meu pai prezava e queria transmitir-me isso, mas eu teimava em não perceber.

No entanto com o decorrer do tempo as coisas mudaram. Atravessei uma grande crise de confiança que parece ter abalado a dinâmica da família. A minha mãe preocupava-se demasiadamente comigo, enquanto o meu pai se afastou um bocado. Provavelmente ele teria outras situações que o afetavam, que ele não gostava de revelar e preferia interiorizar. A verdade é que me ressenti um bocado da sua ausência, a nível emocional, e tentei procurar maneira de me defender. Nunca consegui e acabei mesmo por desistir. Lembro-me mesmo de chegar a casa, depois de uma sequência de dias difíceis na escola e não ter vontade de me levantar da cama. Os anos em que senti o distanciamento do meu pai, foram os piores minha vida.
Ao longo do tempo, o espaçamento foi aumentando e houve alturas em que eu e o meu pai vivíamos na mesma casa, mas eu nem me importava com isso, porque já não o via como uma figura paterna. Mais uma vez eu amo-o muito, mas houve uma desconeção emocional durante um largo período de tempo.

A puberdade não ajudou e depois do afastamento do meu pai, sucedeu-se o afastamento emocional da minha mãe. Eu sentia-me mesmo só e como tal procurava responder com indiferença.
Durou alguns anos mas a fase acabou por passar, nós crescemos e percebemos que não vivemos sozinhos no mundo. As pessoas tem os seus problemas e apesar de ter tido uns pais extraordinários na primeira fase da minha vida, eu cheguei mesmo a sentir que eles tinham desaparecido. Nada disto é culpa deles, provavelmente eu estava mal habituado. Provavelmente vivia demasiado protegido do mundo. Provavelmente não me expus tanto e isso teve determinados efeitos. Agora tudo isso é passado e a vida continua.
Atualmente, posso revelar que as respetivas relações estão bem melhores. O facto de estar mais maduro e perceber que a “luta da vida” é dura, faz-me perceber que eles também são seres-humanos e também tiveram, tem e irão ter dificuldades para enfrentar alguns obstáculos. Afinal de contas “se soubéssemos melhor, faríamos melhor”.


Pedro
São chatos, intolerantes e antiquados, mas têm um dom de saber o que devemos fazer e acabamos sempre por confirmar que tinham, no fundo do fundo, razão para nos terem chateado daquela maneira.

Toda a criança necessita, obrigatoriamente, de alguém que lhe transmita um caminho para a educação e para a sua formação como ser humano. Ora, sempre que o caminho é desviado e os comportamentos não são os adequados é de esperar a correção de volta ao caminho certo, esta deverá ser feita pelos pais da criança.

Ora, na minha opinião, os problemas entre pais e filhos residem em saber como fazer uma correta retificação do caminho. Primeiro, deve ser dada um explicação coerente, pois o “porque eu digo” tem muito pouco de educativo. Segundo, a forma como se fala deve ser adequada, isto porque os erros fazem parte da formação e reagir agressivamente só trará animosidade à relação pais/filhos. Optar pelo diálogo deve ser sempre a medida tomada, pois o papel dos pais deve ser formar uma boa pessoa e não alguém com receio de se exprimir.

Tiago
Não me posso queixar da minha educação. Apesar de viver apenas com a minha mãe e com o meu irmão. Nunca me faltou nada. Tive sempre o apoio do resto da família que ajudava a mim e ao meu irmão. Claro que por causa da minha mãe ser a minha única figura de autoridade, por vezes, chateava-me com ela sem razão nos momentos em que apenas ela podia chamar-me à atenção. Mas sem dúvida que tenho uma grande relação com ela.

Para além do ensino regular, a minha mãe permitiu-me fazer atividades extra, como estudar música e praticar desporto, que foi bastante importante para o meu desenvolvimento. Consegui experimentar muitas coisas e perceber o que realmente gosto e aquilo que não gosto. A minha mãe sempre me deu bastante liberdade, contudo ela também sabia gerir um meio-termo e quando tinha de ser autoritária ela era capaz de o ser nos momentos certos.

Ela também ensinou que para ser pai ou mãe, realmente basta ter muito amor e muita vontade. Por isso se eu tive uma infância normal, sem problemas e cresci em volta de uma figura feminina, não vejo por que razões algumas pessoas são contra a adoção de crianças por parte de casais homossexuais. As crianças precisam de amor, apenas isso. Não é por ser um casal homossexual que elas vão ter um desenvolvimento anormal em relação a outras crianças e de futuro terão tendência a ser homossexuais. E se o forem, não podemos considerar um problema, visto que não devemos ser preconceituosos, pois a homossexualidade é uma escolha e não uma doença. Independentemente se o casal é homossexual, heterossexual, se é apenas um pai, uma mãe, avós, ou tios, o que uma criança precisa apenas é amor e conforto.

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