A infância aparece-nos como uma das primeiras dádivas da vida. Saltar
esta etapa da nossa existência para nos transformarmos em adultos nunca será
possível, temos que ser primeiramente crianças, já que é nessa fase da vida que
se molda uma grande “fatia” da nossa personalidade.
A fase mais infantil é uma das fases de vida mais abordadas pelos
psicólogos. Sigmund Freud e Jean Piaget são dois nomes, numa lista extensa de
profissionais, que decidiram aprofundar-se nesta área de investigação. Freud
criou os estádios de desenvolvimento, enquanto Piaget desenvolveu a ideia dos
estágios. Autores diferentes, ideias diferentes, com um objetivo em comum:
compreender o desenvolvimento da criança.
“ Todas as crianças nascem com instintos que as empurram para se comportarem em função da sua vontade... durante o processo de desenvolvimento, que acontece na relação da criança com os humanos...o seu cérebro se reorganiza, ganha uma nova estrutura. É um processo lento e muito complexo”
Quintino Aires, 2010
Quando se trata de um bebé, é importante lembrar que no inicio este só
sabe um limitado leque de movimentos e todos eles são instintivos. Estes têm
uma perceção e os sentidos muito pouco desenvolvidos e, quando não estão saciados,
procuram rapidamente uma forma de aliviar o prazer. Freud defendia que caso estes
prazeres instintivos não fossem devidamente correspondidos, serviriam de
justificação para alguns comportamentos que teremos numa fase mais adulta.
Ele associa por exemplo que o prolongamento do ato de mamar, pode
gerar uma personalidade mais dependente com tendência para criar vícios (Roer
as unhas, por exemplo).
Por outro lado, a ideia de Piaget encontra-se dividida em 4
sub-estágios. Cada sub-estágio possui critérios específicos que foram, com a
ajuda do Behaviorismo, estabelecidos pelo psicólogo.
Por exemplo, no primeiro estágio, Sensório-Motor, o bebé começa por
criar esquemas mentais para assimilar o meio, a inteligência é muito prática e
contacto com o meio ainda é muito limitado e direto. Após este, temos o estágio
Pré-Operatório, o Operatório Concreto e por último o Operatório Formal, que
terminará pelos 12 anos.
No entanto, apesar de estes investigadores terem desenvolvido muitos
esforços para compreender da melhor forma os bebés e as crianças, existiam
campos onde eles nunca se mostraram capazes de tirar conclusões. O exemplo de
descobrir se efetivamente o nosso natural temperamento é adquirido ao longo da
nossa aprendizagem ou se é inato, mostra-nos que ainda existia bastante matéria
por investigar nesta área da Psicologia.
Vygotsky trouxe uma nova perspetiva acerca do crescimento da criança.
Segundo ele, as caraterísticas e atitudes individuais são fruto da interação
com outros. O ser-humano é por natureza um ser relacional e necessita do
contacto com outros seres da sua espécie para se estabelecer com um ser único,
com as suas caraterísticas, atitudes e personalidade.
“Trough
others, we become ourselves”
Lev Vygotsky
Decerto, todos nós os três passamos pelos estágios ou estádios já
referidos, com experiências diferentes, a crescer e a desenvolvermo-nos a
velocidades diferentes, que provavelmente tiveram influência naquilo que somos
hoje. Assim, passaremos a dar os nossos testemunhos, em relação aquilo que foi a
nossa vivência de crianças.
João
Como Vygotsky dizia, a infância pode ser chave no desenvolvimento
adulto e a maneira como lidamos com os outros, pode definir o que nós somos.
Posso corroborar a sua teoria com o meu próprio exemplo.
Aquilo que hoje julgo ser, se deverá muito à educação e aquisição de
comportamentos durante os meus primeiros anos de vida. Além disso, as relações
que mantive e a maneira como fui educado definiram, por exemplo, um certo grau
de introversão e esse comportamento adiquiri-o já quando era pequeno. Sentia-me
confortável, e como tal, sentia que não necessitava de mudar. A minha
capacidade de encontrar estímulo no interior era muito forte e por mais que
possa ter crescido nesse aspeto, ainda volto casualmente ao meu “mundo à parte”.
Outra caraterística que reconheço ter e que adquiri muito cedo na
minha vida, foi o sentido de responsabilidade apurado. De cedo percebi que
compensava mais ser honesto, assumir o erro e pedir desculpa, do que perder
tempo a arranjar desculpas e “atirar pedras”. Lembro-me da única vez que menti
a sério aos meus pais e foi sobre ter tirado uma negativa. Simplesmente menti e
disse que tinha tirado um excelente, porque tinha medo de desapontá-los. A
mentira continuou até ao final do semestre, até a pauta das notas me denunciar.
Sem querer desapontá-los uma vez, acabei por desapontá-los duas vezes.
Eles ficaram tristes, eu de castigo e percebi que mentir não era um
comportamento aceitável.
Hoje posso usar uma “mentira saudável” de” lés-a-lés”, mas ainda assim
procuro que a minha honestidade sobressaia e, como já disse anteriormente, essa
é uma caraterística que provavelmente adquiri naquela experiência mais
negativa que tive enquanto criança.
Assim, mantenho-me ao lado de Vygotsky. A maneira como vivemos a
infância e os estímulos interpessoais a que estamos sujeitos, são determinantes
no nosso futuro, pelo que, na minha opinião, esta será mesmo a fase mais
importante da nossa existência.
Tiago
É sempre difícil não termos saudades de sermos crianças, a altura em
que simplesmente só divertíamos, vivíamos sem preocupações e totalmente
inconscientes da realidade do mundo, em que tudo parece estar a correr
bem.
É importante relembrar sempre relembrar que por esta altura, não havia
crise como se verifica atualmente, as próprias pessoas descreviam a época como
a “geração das vacas gordas”, em que realmente nada me faltou a mim e ao meu
irmão. Muita das vezes bastava pedir, que os meus pais podiam comprar-me quase
tudo, e caso não conseguissem, se fosse preciso faziam um pequeno esforço
financeiro e arranjavam uma forma de poupar uns trocos. E de seguida compravam.
O que marcou a minha infância sem dúvida foi passar tardes e tardes a
andar de bicicleta, a jogar futebol, a jogar às escondidas e inventar jogos com
os meus vizinhos. Outras das minhas atividades preferidas era brincar com Legos
e fazer jogadores de papel. Basicamente tudo que servisse para construir, recrear
uma partida de futebol ou outras modalidades desportivas era uma excelente
atividade.
Porém chegamos à época das modernidades e por isso também joguei
bastante playstacion 1 e 2. Onde passei muitas horas com o meu irmão a jogar a
coleção “FIFA” e “Crash Bandicoot”. Com o surgimento dos computadores, também
comecei desde cedo a fazer várias experiências no computador e a fazer vídeos
com o primo.
Mas o que mais me deixa saudades da minha infância é indiscutivelmente
ver cassetes e os desenhos animados que via na televisão com o meu irmão. Eu
tinha uma grande coleção de cassetes de filmes de animação. Desde filmes da
“Disney”, da “DreamWorks” e da coleção “Era uma vez a vida”. Era também uma
época dourada dos filmes e séries de animação, pois na altura quando faziam-se
filmes e séries, centravam-se as atenções no desenvolvimento de uma boa
história e não na lógia atual do consumo rápido.
Eu dividia o quarto com o meu
irmão, por isso quase todas as noites, víamos um filme antes de nos virmos
deitar. E todas as manhãs acordávamos sempre bem cedo para não perder os nossos
desenhos animados favoritos, pois na altura não havia gravações automáticas.
Hoje, já mais crescido noto a evolução que as brincadeiras de infância
foram sofrendo ao longo do tempo. Contudo acho que atualmente está a passar-se
o limite das barreiras do acesso que se dá da tecnologia às crianças. Se mesmo
na minha altura, podia dizer que um computador poderia ser algo perigoso, falo
agora do presente em que qualquer criança mal começa a andar, também já brinca
com Tablet e mal entram na escola primária e já têm um telemóvel. Estamos a
entrar numa geração digital, e não condeno o futuro da infância dos nossos
filhos por não ser igual à nossa, mas acho que cada vez mais está-se a privar a
comunicação humana direta e o estímulo das crianças brincar ao ar-livre. Que na
minha opinião não é nada saudável.
Pedro
Tremendamente
ingénuo, tremendamente influenciável, tremendamente feliz. É assim a explicação
da minha infância, tão sim simples como isto. É incrível como tão pouco
conhecimento me fazia tão feliz, como que a descoberta de um novo mundo fosse a
chama para felicidade.
Nostalgia, tenho muita. Exemplo disso mesmo
são os meus legos, que ainda hoje me proporcionam horas de despertar da
criatividade há muito escondida por um conhecimento científico pragmático. Esta
sensação de poder criar algo livremente é o que me trás mais saudade dos meus
dias de crianças. As aulas eram tão mais enriquecedoras quando podíamos fazer
uma composição com um tema livre, um desenho com o que viesse à cabeça.
É certo que
a educação tem inevitavelmente de ter alguma restrição, um “dois mais dois” tem
ser obrigatoriamente quatro, mas é também importante que se desenvolva as
noções de criatividade para que o ser humano consiga saber criar algo. Falta
despertar a nossa criança interior para o homem adulto seja um ser mais
completo.
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